quarta-feira, 3 de maio de 2017

Tenho tantas saudades tuas, Mafalda


Mafalda,

Faz hoje 45 anos que nasceste.
Lembro-me bem da soberba alegria que senti ao ser pai.
Fizeste-me pai pela primeira vez.
Habituado, desde sempre, a chamar pai, tinha, desde esse momento, alguém que me iria chamar pai a mim.
Nos dias seguintes não me cansei de dizer a toda a gente que já era pai, que tinha uma filha linda.
Todos tinham que saber que eu era PAI.
E um PAI todo baboso com apenas 19 anos.

Os anos que se seguiram foram difíceis.
Para ti e para todos nós que sempre te amámos.
Mas, com muita luta, determinação e muito amor, conseguimos ultrapassar quase todos os problemas e tornaste-te numa menina cada vez mais forte.
Ainda hoje todos te recordam com uma ternura que me comove.

A vida é muito cruel.
Mas temos que aceitá-la como ela é.
E muito cedo, demasiado cedo, deixaste-nos.
Com apenas 23 aninhos, deixaste-nos.
Mas estarás sempre entre nós, no nosso coração.

Guardo, religiosamente, exposto no meu escritório, o último postal do Dia do Pai que me deste.
Foi no dia 19 de Março de 1995.
Dois meses antes de nos deixares.

Nessa altura, por razões que a própria razão desconhece, andava eu meio confuso e sem rumo.
E tu sabias e reparaste nisso.
Nessa altura não era o pai que tu conheceras.
Escolheste um postal que retratava um pai sentado no chão, longe da vida, longe de tudo, a tocar saxofone, com ar desleixado, e com o filho dormindo junto a si.
Nas costas do postal, escreveste uma mensagem que, desde esse dia, me tem inspirado:

"19/3/95 Hoje é Dia do Pai.
Quero-te dizer que te amo muito que te adoro e que desejo que dias melhores venham para a tua vida, desta tua filha que muito te adora.
Mafalda
".


Cada vez que leio esta tua mensagem, choro... Estou a chorar.

E agora, filha, quero dizer-te que os teus desejos foram realizados.
Meio perdido.
Alcoolizado.
Sem força para lutar.
Sem emprego.
Sem projectos.
Sem perspectivas.
Sem ânimo.
Era o fim.

NÃO !!!
Recusei-me a aceitar.

Acordei.
E consegui.

Voltei a ser eu, o pai que tu conheceste e adoraste.
Inspirado na tua mensagem consegui que melhores dias viessem para a minha vida.
Tudo me corre bem.
Saúde quanto baste.
Dinheiro para as necessidades e alguns desvarios.
Amor e amizade quanto se possa desejar.
Agora até o Benfica, de vez em quando, joga bem e ganha.
Ganhei o passado.
Estou, claramente, a ganhar o presente.
Tenho esperança de ganhar o futuro.
E vou ganhá-lo...
Obrigado, filha.

A mana Paula, o teu cunhado Fernando e o teu sobrinho Diogo estão bem.
São felizes.
Pelo que sei, a tua mãe também.

Agora tens outra mana, a Eunice.
Aaaahhh como eu gostava que a tivesses conhecido.
Tem dezoito anos e é, pelo menos para mim, a melhor saxofonista do Concelho de Loures.
Confesso que, muitas vezes, vou dar comigo a olhar para ela como se de ti se tratasse.
É uma ternura de menina.
Como tu eras.

Tens, também, mais duas manas, não de sangue mas de coração, a Rita e a Soraia.
A Paula, a mãe delas, casou comigo.
Devo a ela muito do que tenho conseguido.
Tem sido uma companheira exemplar.

Um dia irei ter contigo.
Contar-te-ei, então, tudo.
Ficarás feliz.
Por enquanto, por cá vou ficando porque ainda tenho muito para fazer.

Sempre contigo no pensamento.
Sempre contigo no coração.

Tu sabias que eu ia conseguir.
Sempre confiaste em mim.
E eu quero continuar a cumprir os desejos que cá me deixaste naquele Dia do Pai
.

Que Deus te dê a dobro do que deixaste de ter cá na Terra.
Confio que estarás bem entregue.
Tu mereces.

Tenho muitas saudades tuas, Mafalda.

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