sábado, 6 de novembro de 2010

Ousem Vencer


Somos um povo triste.
Somos um povo de copos meio vazios.
Somos um povo que super-valoriza a desgraça e a má sorte, como forma de valorização pessoal.
Quanto mais desgraçado, mais valor se tem.
Ahhhh!... Ter sempre um dramazinho para contar...
Ahhhh!... Sentir-se importante por ter problemas.
Sentir-se bom por ter sofrido...
É comum ouvir-se : "Coitado, tão bonzinho, tem tanto valor. Tem sofrido tanto..."
É uma expressão que assusta.

Temo-nos baseado grandemente no medo de ser feliz, na culpa de ser feliz e foi-se parar a um quase culto da desgraça e do sofrimento ( padrões altamente valorizados socialmente ).

Mas, eu NÃO !!
Não sou dado a fatalismos.
Recuso-me a aceitar os profectas da desgraça.

Quando algo me corre mal, e já tem corrido, arregaço as mangas, encho-me de coragem, e avanço.
Existe sempre uma solução, mas temos que procurá-la.
Existe sempre uma oportunidade, mas temos de a agarrar.
Temos que acreditar em nós.
Esperar pelos outros, pelo vizinho, pela familia ou pelo Estado, é prova de fraqueza.
É na dificuldade que sobressaiem os capazes.
Só é desgraçado quem se deixa desgraçar.

Agora é a crise.
A crise economica e financeira mundial.

É deprimente a postura mazoquista a que se assiste.
A Comunicação Social focaliza os seus noticiários e reportagens no que de pior esta crise nos trouxe.
A Oposição politica e corporativa aproveita-se das dificuldades conjunturais para "malhar" manhosamente em tudo o que mexe.

É a desfaçatez.
É a mesquinhice.
É o triste fado lusitano.

Em tempo de guerra não se limpam armas.
Em tempos dificeis requere-se acção, não imobilismo.
Em tempos dificeis exige-se coragem, determinação e vontade de vencer.

Na vida a minha atitude é sempre a de:
Apoiar quem faz.
Apoiar quem quer fazer.
Apoiar quem se dispõe, no terreno real, a atacar com determinação os efeitos nefastos da situação.

Sou a favor de quem faz, e faz bem.
Sou visceralmente contra os que "sabem muito", os chamados "sabões".

É estranho, ou talvez não, que de todas as muitas medidas tomadas pelo Governo, nem uma única tenha merecido o apoio sincero das oposições.
Para as oposições tudo o que se faz, está mal.
Tudo o que se faz, se não estiver mal, nunca chega.
Tudo o que se faz, se não estiver mal, vem tarde.

Mas, entre as medidadas do Governo e os devaneios das oposições, vai uma grande diferença.
O Governo responderá pelas suas medidas.
As oposições não terão que responder por nada.
O Governo sabe que o que fizer, de bem ou de mal, será responsabilizado por isso.
Assim, tem de agir ponderada e acertadamente.
Para a oposição, o seu ganho está nos erros que o Governo cometer.

A oposição aposta no fracasso do País.
O Governo aposta no seu sucesso.
E isso faz toda a diferença.

Estamos em crise. Uma crise mundial.
Mas, paremos para pensar.
Pensemos, PORRA...

Há muitos copos meio cheios...
Há muito mais vida, e melhor vida, para além de algumas desgraças, que não quero desvalorizar.

O maior problema desta crise é o aumento do desemprego.
E não me venham, os manhosos arautos da desgraça, dizer-me que esse é um mal nacional.
Eu uso óculos, mas não sou vesgo...
Não.
É um mal global que obviamente nos afecta.

O meu pai, na sua douta sabedoria de experiência feita, costumava dizer-me que os conselhos são fáceis de dar.
Mas, os conselhos valem o que valem.
Se valessem muito, não se davam, vendiam-se.

Potanto não é de conselhos que vou falar.
Vou falar de mim.

Sou Tecnico Informático, Analista de Sistemas.
Comecei há 40 anos quando os computadores eram monstros inacessíveis ao comum dos mortais.
Era um miudo, voluntário na Força Aéria.
Quando a oportunidade surgiu, agarrei-a.
Trabalhei, estudei e consegui.

Toda a minha vida profissional foi feita em grandes empresas e com vencimentos acima da média.
Nunca encarei o emprego como coisa para toda a vida.
Nunca tive medo de mudar.
Se me sentia injustiçado ou mal recompensado, não reinvindicava. Mudava-me.
Sempre acreditei, e acredito, em mim.
Nas minhas capacidades.
Na minha determinação.

Mas a vida tem altos e baixos.
Por culpa do "destino" ?
Por culpa própria ?
Sabe-se lá...

Depois de várias experiências, umas bem e outras mal sucedidas, eis que me vejo no desemprego com 44 anos de idade.

Sem emprego.
Sem projectos.
Sem perspectivas.
Sem ânimo.
Era o fim.

NÃO !!!
Recuso-me a aceitar.

Tinha consciência que com 44 anos era difícil a colocação na minha área profissional.
Mas não era impossível.
Tinha consciência que com 44 anos era difícil iniciar qualquer uma outra nova actividade.
Mas não era impossível.

Respondi a anúncios, fui a entrevistas e os 44 anos a pesarem-me dolorosamente.
Não conseguia.
Mas não desisti.
Continuei à procura.
O tempo passava, e nada.
Tive que deitar mão ao que fosse possível ganhar dinheiro.
Gostasse ou não.
Na tropa ensinaram-me a regra mais sagrada da vida: "desenrasca-te", disseram-me.

Andei de café em café a vender bolos regionais.
À medida que criei uma rede, cada vez maior, de clientes, fui aproveitando esse universo que se foi formando, para vender tudo o que fosse vendável.
Vendi calças de ganga, quadros, estatuetas, telemóveis e eu sei lá...

Vendi milhares e milhares de bolos por todo este País, em feiras e romarias, através de um turco que tinha bancas de venda em feiras mas não tinha crédito nas fábricas.
Criámos uma parceria que muito nos rendeu.

E assim, lá em casa, já não faltava nada.
Até começou a sobrar.

Mas eu era Informático.
Nunca fui vendedor de coisa alguma, muito menos de bolos.

Mas, um dia a persistência resultou.
Depois de tantas e continuadas respostas a anúncios, fui convocado para mais uma entrevista de emprego.
Fui seleccionado.
Fiquei como responsável pela informática de uma grande empresa de transportes.
Mas o mundo das novas tecnologias é muito dinâmico e eu já me tinha atrazado.
Mas não tive medo.
Pesasse embora a minha idade, reciclei-me, aprendi, valorizei-me.
Porque sou capaz.
Porque acredito em mim.
Porque não desisto.

E é este sentimento de esperança e de optimismo que quero transmitir a todos que, neste momento, se confrontam com as dificuldades.

Não esperem por ninguém.
Não queiram ficar reféns do estado social.

Mexam-se.
Ousem vencer.

Hoje, com 58 anos, para além do profissional de informática, agora por conta própria, sou, sobretudo, um profissional de ganhar dinheiro.

Informei-me, documentei-me, analisei o risco e fui investindo moderadamente as minhas economias em aplicações financeiras, no mercado de valores mobiliários.
E também consegui... mesmo com a crise.

Oportunidades há muitas.
Agarrem-nas.
Só é desgraçado quem se deixa desgraçar.

Abençoados os que ousam vencer...