sábado, 12 de março de 2011

Geração à Rasca ou Geração mal habituada ?


A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.
Foi uma geração com capacidade para se desenrascar.
Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores.
Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.
Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava.
Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo.
Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.
Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples.
Foram trabalhar.

Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.
Não ficaram à espera.
Foram taberneiros.
Foram carvoeiros.
Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcaão.
Foram simples empregados de tasca.
Mas pouparam.
E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.
Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.
Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.
Porque sempre acreditaram neles próprios.

E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.
Nós, eu e os meus primos, sempre tivémos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.
Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.
E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.

Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.
Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.
Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.

Preciso de mim.
Só de mim.
E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.
Porque me desenrasco.
Porque sempre me desenrasquei.


O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.
Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.
Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido.
Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.
Sentem-se desiludidos.

E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.
Mas não é
.
É altura de aprenderem a ser humildes.
É altura de fazerem opções.
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.
Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.
Mexam-se.
Trabalhem
.
Ganhem dinheiro.

Na loja do Shopping.
Porque não ?
Aaaahhh porque é Doutor...
Doutor em loja de Shopping não dá status social.
Pois não.
Mas dá algum dinheiro.
E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".
O tal que dá status.

O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.
Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.

Geração à rasca ?
Vão trabalhar que isso passa
.

À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.
Mas vou à casa de banho e passa-me.

12 comentários:

  1. só lhe vou dizer uma coisa... depois do comentário da casa de banho que prova a coerência de todo o resto do texto. No dia que toda a minha geração com ensino superior sair do pais e trabalhar no estrangeiro, quero ver como é que o estado lhe vai pagar a sua reforma.. HÁ muitos jovens por ai que mesmo esses trabalhos do norte shoping estão bloqueados porque por e simplesmente têm conhecimentos a mais, sim conhecimentos a mais... o jovem não gosta de estar desempregado anos acha que um jovem desempregado tanto tempo não tenta esse tipo de trabalhos mais humildes... olhe você até podia ser ancião mas é mesmo só antigo.

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  2. Boa tarde João,

    Respeito o seu comentário, mas confesso que o mesmo é infundado, pois se alguns têm o que querem de "mão beijadas, dada pelos papás" esse não é o meu caso...nem queria que fosse.

    Conclui o curso em 2008 e fiz tudo para não demorar mais tempo do que o planeado para tirar a minha formação, e desde então que procuro trabalho na minha área. É verdade que podia começar pelo shopping e não foi por não ter o dito status que não o procurei, mas porque optei por procurar na minha área evitando retardar o meu começo profissional.
    Desse modo, fui arranjando uns trabalhos aqui outros ali e actualmente faço uma viagem quase diária de 3 horas apenas para fazer umas horas numa empresa que ainda por cima me paga mal. E como não sou do tipo de ficar parado, como o João julgo que a nossa geração fica, é que trabalho para 3 empresas ao mesmo tempo. Umas pagam bem, outras nem por isso e a 3ª até chega a nem me pagar. Já trabalhei 6 meses numa empresa, no qual o patrãozinho não me pagou (e tínhamos acordado o ordenado mínimo desde o inicio, mas por várias desculpas nunca me deu contrato para assinar).

    Mas paro os lamentos, não estou aqui para tentar aparecer na tvi queixar-me da minha condição, e apenas o fiz de modo a entender que não sou do tipo de ficar parado como o João julga sermos.
    É verdade que também tenho um telemóvel touch, que foi fruto não dos papás, mas por ter poupado durante imenso tempo. Saio às vezes à noite, mas tenho de cortar outros luxos pois de momento tudo o que gasto é tudo fruto do que tenho produzido desde 2008.
    Assim, e como vários, conheçam realmente a causa antes de falar dela mesma.

    E agora pergunto-lhe onde está a crise?
    A crise, está instalada no "zé pobinho" de cada um de vós, que faz desenrolar uma bola de neve e fechar as portas à minha geração. E é essa a real causa desta confusão toda.
    Certo que os políticos têm uma quota parte de culpa neste processo todo e que têm a mesma opinião de que nós devíamos era "trabalhar e fazer pela vida". Mas foi a implantação dessa moda que é a crise, que fez todas as empresas fecharem-se e terem medo de apostar, fechando várias portas à sua volta, desencadeando desse modo uma bola de neve que complicou a vida a imensas pessoas.
    A mesma não passa de uma falta de carisma dos empresários (principalmente das médio-pequenas empresas, porque as grandes continuam lá no alto), que por medo da crise foram fechando as portas, forçando assim à economia geral (das pessoas) a baixar circunstâncialmente.
    Não nego que economicamente possamos estar pior, mas não este pandemónio que já enjoa.
    Como "zé pobinhos" que é o Português, tudo é desculpa pelos nossos erros, e neste caso tudo é culpa da crise. Mas se as empresas também tiverem carisma, fazendo o rio correr, a nossa geração começa a ter as suas oportunidades e seguir com a vida, rejuvenescendo este "paísito". Que continua a tender a envelhecer cada vez mais e mais, que qualquer dia terão de chamar imigrantes jovens para dar apoio aos velhinhos de cá.

    Deixem-se de taínhas, e deixem o mundo girar.
    E se os seus antepassados puderam recusar uma "geração à rasca", digo-lhe que a minha não consegue fugir dela, principalmente por quem está nas gerações acima da nossa não permite a minha geração de começar a sua vida, onde os estágios gratuitos e a crise estão na moda, e onde toda essa hipocrisia é permitida em todo o lado, com as mais variadas e estúpidas razões.
    Se não houvesse tanto "xico espertismo" neste país, poderíamos ser um país de topo. Se não fossemos estúpidos ao ponto de dar maior valor ao que vem de fora em vez das potencialidades que temos cá dentro, seriamos mais e melhores.
    Como o Ricardo de um modo refere, é preciso ir lá para fora começar o nosso caminho profissional, para podermos voltar para cá e sermos assim aceites de tapete vermelho.

    E se após isto tudo, ainda acha que tem razão, digo-lhe o mesmo, pois também a temos.

    Sérgio Paulino

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  3. «Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.
    Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido.»

    Sabe porquê? Olhe para os seus filhos, para os seu sobrinhos ou jovens que teriam idade de ser seus filhos... quem são os nossos pais que nos deram tudo? que não nos ensinaram a desenrascar?
    Não estou a dizer que todos os pais o fizeram, mas não podem culpar uma geração que não se sabe desenrascar quando não foram ensinados a faze-lo.

    Pode demorar o seu tempo, mas como bons portugueses havemos de lá chegar e dar a volta a isto, se quiser fazer alguma coisa, ajude, ensine aquilo que não aprendemos quando era tempo disso e deixe de dizer mal dos jovens que estão à rasca e agora não sabem como sair daí!

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  4. Creio que não se diz mal dos jovens. estamos sim num beco sem saída, porque estamos numa sociedade em grande transformação e para a qual não estamos preparados, porque o sistema não deixa. Há demasiada gente a viver bem e que não quer que isto mude. Mas os jovens também podiam ajudar mais. Por exemplo, a maioria que anda nos cursos superiores, estuda a sério? E porque estão os bares abertos até demanhã, quando no dia seguinte se tem que trabalhar ou estudar? Há muita incoerência em toda a nossa sociedade actual, talvez até muita hipocrisia.

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  6. Você ou é um demagogo ou ignorante… ou então se calhar é mesmo as duas coisas. Do que não duvido é que você é um lambe botas.

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  8. Não posso deixar de fazer um certo reparo a este senhor... concordo que há por aí muita gente que está mal habituada, mas não serão todos e há quem procure tentar trabalhar... mas não consegue. Quanto à questão do doutor na loja do shopping, desculpe mas tem muita falta de informação... eu conheço pessoas com curso superior, que neste momento nem sequer estão a trabalhar na área desse mesmo curso, e que um dia tentaram encontrar trabalho em lojas de shoppings... sabe qual foi a resposta?? "Tem muitas qualificações"

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  10. Gostava muito de ler as respostas do sr. System Engineer, aos comentários que são feitos ao seu post. Possivelmente o sr. João Barbosa, formou se numa altura em que haviam poucos técnicos na área de I.T., passando rapidamente dos trabalhos precários a um belo emprego nos quadros de uma multinacional. Enquadrando se por isso na geração NOT ('Geração à Rasca' OR 'Geração mal habituada').
    Já dizia o outro, cada um tem a sua opinião e dá a a conhecer a quem quiser, mas usar os seus problemas de saúde para estabelecer analogia com um problema social deixa muito a desejar.

    Um seu colega System Engineer

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  11. O sr João Barbosa tirou-me as palavras da boca. Ao ler o post parecia que fui eu que o escrevi e não me lembrava... Concordo em pleno consigo...

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